quarta-feira, 29 de junho de 2011

Política para quem precisa

Se é deprimente e revoltante saber que a maioria de nós, alagoanos, vive em pobreza extrema – batemos o recorde nacional com 56%, segundo o IPEA –, acredito ser ainda mais desconcertante constatar que estamos entre os estados que mais sofrem com a falta de produtividade intelectual. Escolhi dizer ‘produtividade intelectual’ porque tentava imaginar qual outra expressão seria mais original para me referir à ‘educação’, essa coisa básica tão martelada que chega a ficar clichê nas campanhas políticas. Chega a encher de poeira logo depois.

Os monstros do analfabetismo e analfabetismo funcional extrapolam armários e papéis do IBGE e entram, preocupantes, na minha mente deslavada que não busca tanta credibilidade assim nas estatísticas. Acontece que, segundo dados desta vez colhidos pelo Tribunal Superior Eleitoral, aproximadamente um em cada seis eleitores em Alagoas não sabem ler nada. Dos cinco que restaram, um deles sabe basicamente apenas escrever o próprio nome.

Pronto: não vou mais falar de números. E antes que o caro leitor pense em ficar cansado, confie: essa matemática toda terá uma moral da história. Um tanto imoral, talvez. O problema é que, quando vejo estes benditos números, tento achar – quase sempre sem futuro – a lógica maior de tanta falta de mobilidade. Quando os tais dados revelam algum sinal positivo, comparo essa movimentação com a de um menino magrela subindo a ladeira da Catedral com 10 quilos de macaxeira nas costas ao meio dia: uma subida sofrida,suada e lenta.

Acontece que não há como deixar de observar o quanto esse caracol só nos deixa mais presos lá dentro. Tanta gente na miséria absoluta e tanta gente sem a consciência dos próprios poderes colaborando inconscientemente para que tudo fique assim. Deixemos então de lado essas contas doidas, esses cálculos perversos, que fazem acreditarmos que política é apenas uma ferramenta usada por gestores eleitos para teoricamente mudar números, alavancar capacidades, potências, dados. Quem quer saber dessa política? Para quem é essa política? Quem faz política? Quem a utiliza?

Para todas as perguntas, uma resposta: nós. Dados e dardos humanos, trabalhamos quatro meses no ano apenas para pagar impostos. Janeiro, fevereiro, março e abril, oito horas diárias, noites sem sono, trânsito, os sapos engolidos, a falta de tempo para família, para o lazer, para o amor. Tudo entregue a terceiros para que apliquem esse seu trabalho na calçada que você anda, na escola e na moradia do menino que te pede esmola e você fecha o vidro do carro. É o tal dinheiro público, esse que não reconhecemos como nosso, mesmo quando o vemos entrando em cuecas alheias, ou desviados em esquemas criminosos de deputados, prefeitos, senadores, governadores e presidentes.

Então vemos na TV, ouvimos no rádio – ou lemos, caso possamos – expressões esquisitas como ‘propinas’, ‘desvios de verba’, ‘impugnação’, ‘corrupção ativa’, “ação civil pública”. As palavras fogem de nosso vocabulário politicamente analfabeto. O tempo foge de nossas existências. As vidas fogem de nosso controle mais do que deveriam. Tudo isso simplesmente porque ‘achamos a política uma coisa chata’, porque não estamos tulhufas ao que diz respeito diretamente a nós, ao passado mal entendido que descambou nessa confusão, à nossa vida, à nossas amizades, amores, rotina, futuro, presente.

É o que Edgar Morin chamaria talvez de Antropolítica. A tal política do homem planetário, a consciência de quem somos e de que podemos tomar conta de nossas vidas, ao invés de deixá-las como barquinho solto na correnteza alheia. Isso requer saber números e coisas que, à primeira vista, têm menos graça do que a novela da oito. Implica em voltarmos e instigarmos nossa curiosidade sobre questões como, por exemplo, quem é o menino magrela? Será que ele sobe até o fim? E o que isso tem a ver comigo? Mas vá lá! Por mais pesado que seja, vale a pena olhar para além da macaxeira...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Adoro Geneton! ;)

Cansada de retuitar todas as suas frases no twitter, decidi colocá-las aqui. Leiam, reflitam divirtam-se e, jornalistas, meus queridos, reconheçam:

- Há um "quê" de humorismo involuntário no jornalismo: é hilariante ver como tantos julgam a profissão mais importante do que ela jamais foi.


-Artigo primeiro:compromisso do jornalista é com o público,não é com o entrevistado.Se esta lei fosse seguida,não haveria tanta babação.Ponto

- Já disseram:"Das coisas menos importantes da vida, a mais importante é o futebol".É hora de torcer.Porque futebol é a Grande Arte brasileira

-Dei uma folheada completa numa revista de celebridades.Não sabia o que era sentir "vergonha alheia".Aprendi imediatamente - e para sempre.

-Piada interna de TV: "repórter Varig" é aquele que,ao preparar uma reportagem,pergunta logo: "E a passagem ?"(é o trecho em que ele aparece)

- O diabo me perguntará,na porta do inferno:"O que você fez de útil na vida?". Arriscarei:"Jornalismo serve?". E ele: "Quá-quá-quá-quá-quá!"

-A vida:neste minuto,uma criança nasce,um avião decola,o planeta gira- e,em alguma redação, um editor joga no lixo uma história interessante.

-Se todos os jornalistas que se julgam sumidades pulassem de uma só vez, o Brasil sofreria um teremoto 8 vezes pior que a bomba de Hiroshima.

- Fazer jornalismo é tentar contar da maneira mais atraente possível o que aconteceu. Não é tão importante,pois.Mas gera delírios de grandeza

- Receita infalível para o desastre televisivo: repórter que quer aparecer mais do que o assunto. Não há exceção:o resultado é constrangedor.

- De tanto falar e escrever sobre coisas supostamente importantes,jornalistas tendem a se achar importantes também.Resultado:desastre,desastre

- Platéia do Altas Horas tinha estudantes de jornalismo.Repassei lição que aprendi:"Jornalistas precisam reaprender a ouvir!".

- Tal qual o personagem daquele romance,o Jornalismo deve ansiar por "luz,altura,claridade". Não importa que não consiga. O que vale é a busca

-Não reclamo da profissão.Não troco o Jornalismo por nada.Reclamo das imposturas.Declaro-me oficialmente um dissidente.Meu lema:alô,Sibéria.

-Jornalismo é a melhor profissão do mundo. Em que outra atividade alguém é pago para começar 300 frases com a expressão "segundo ele"?

-O Jornalismo se divide entre carrascos (que matam matérias) e ressuscitadores(que dão vida a elas).Os carrascos sempre foram maioria.

-Jornalista que não morde não pode ser levado a sério. É como um pitbull desdentado: não serve para rigorosamente nada.

-Por fim:jornalista é, em geral, o sujeito que,quinze minutos depois de acordar,murmura: que lição de Física vou dar hoje a Albert Einstein ?

sábado, 9 de janeiro de 2010

Nossa memória curta e os erros que se repetem

Se fosse combinado, a ordem não sairia tão perfeita. Quem acompanha as notícias diárias dos (muitos) bafafás que acontecem entre integrantes dos órgãos que deveriam nos representar, já deve ter percebido que há um verdadeiro revezamento de escândalos. As múltiplas confusões entre os deputados estaduais aparentemente se acalmam e ficam em stand by, e aí é hora de tirar o tapete para mostrar – e depois, como sempre, cobrir novamente – o que há de sujo na Câmara Municipal.

Um projeto que exonerava 206 cargos comissionados, elaborado pelo presidente da Câmara, Dudu Holanda (PMN), foi votado e aprovado pela Mesa Diretora. Quem não gostou da história foi o vereador Paulo Coríntio(PDT), que acabou sendo destituído do cargo de 1º secretário, após, segundo Holanda, ‘causar constantes discordâncias na Casa’.

Mas não foi só o cargo que Coríntio perdeu. Na noite do dia 24, em plena festa de Natal – data conhecida pelo resgate de valores como a fraternidade e a paz – Paulo Coríntio teve pedaços da orelha arrancados pelo presidente da Câmara, em meio a uma briga entre os dois ‘amigos de infância’. Piadas envolvendo Mike Tyson à parte, acredito que não é exatamente para se engolirem por decisões administrativas que colocamos essa garotada no Poder.

Há pouco mais de uma semana, no dia 17 deste mês, o vereador Dino Junior teve seu mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), com base nas acusações desencadeadas pela operação Voto de Cabresto, da Polícia Federal, que encontrou mais de quatro mil cadastros de eleitores. Dino Junior é acusado de vender votos – e não conquistá-los por suas propostas ou coisas que o valham – para receber seus milhares de reais como membro da Câmara. Entretanto, ele entrou com recurso e agora é esperar a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Um dia antes da decisão contra Dino, o vereador cassado foi Nery Almeida (PP), sob a mesma acusação. Quem ficou em seu lugar foi Marcelo Palmeira, que é acusado de convencer pessoas a depor contra Nery. Felizmente a internet é um espaço cujas informações não podem ser pagas – em sua totalidade – para serem escondidas, e há um vídeo no youtube com cenas do vereador ‘negociando’ os depoimentos. Ele negou tudo.

Nery Almeida é primo do nosso prefeito Cícero Almeida. E o Cícero Almeida, por sinal, já brigou contra uma ação movida pelo Ministério Público Federal que acusava o gestor de veiculação indevida de propaganda.

Almeida também foi indiciado pela Polícia Federal por peculato, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e crime contra instituição financeira, durante a operação Taturana, desencadeada em 2008 pela Polícia Federal, que desbaratou uma quadrilha acusada de roubar mais de R$ 300 milhões dos cofres da Assembleia Legislativa . O prefeito não quis falar com a imprensa à época, mas garantiu que daria todas as respostas judicialmente. Meses depois, ele foi reeleito com 81% de votos.

Por falar em Operação Taturana, aos que não lembram, essa mesma que indiciou 14 deputados, tem seu principal acusado, Antônio Albuquerque. O parlamentar, após idas e vindas, brigas entre instâncias judiciais, continua exercendo o poder na ALE. E olha que ele não só é acusado de ter liderado o esquema criminoso, como também é acusado de homicídio e formação de quadrilha.

Dessa vez, ele foi preso junto aos deputados Cícero Ferro e ao João Beltrão, durante a Operação Ressurgere. Eles, que são acusados de roubo e homicídio, são nossos representantes, porque nós votamos, e porque a Justiça negou todas as ações que foram feitas contra isso.

E aí surgem diversos nomes esquisitos e que subestimam nossa inteligência de gente comum, que recebe o dinheiro com o próprio suor. ‘Forum Privilegiado’, por exemplo. O que faz com que os juízes da 17ª Vara Crimal(de combate às organizações criminosas) não tenham ‘competência’ para julgar este tipo de caso, pelo menos foi o que o ministro Gilmar Mendes, do STF, declarou, de lá de Brasília, ao restituir Antônio Albuquerque e Cícero Ferro aos cargos após a tentativa de juízes alagoanos de afastá-los.

A última de Albuquerque, no entanto, foi mais recente, mas já está caindo no esquecimento. Seu filho, Nivaldo Ferreira de Albuquerque Neto, foi preso, no início deste mês de dezembro, por porte ilegal de arma, durante uma blitz policial. Ele estava com um revólver calibre 380 no veículo, registrado no nome de Antônio Albuquerque. Após a entrada explosiva de Albuquerque na delegacia, o delegado Roberval Davino arbitrou a fiança de dois salários mínimos e colocou o filho do deputado estadual em liberdade.

A ação do delegado causou maior polêmica e o MP chegou junto para solicitar ao delegado geral da Polícia Civil, Marcílio Barenco, um esclarecimento a respeito da ação de Roberval. À época, o promotor do Ministério Público Estadual, Flávio Gomes, explicou que, em casos de porte ilegal de arma, a liberdade do acusado só pode ser afiançada sob decisão judicial e não de um delegado… Apenas mais um fato.

Isso tudo deve ser bem saudável aos envolvidos nos escândalos que querem disputar as reeleições de 2010, considerando que nós, alagoanos, já mostramos que esses ‘representantes’ podem confiar tranquilamente em nossa memória curta, que se impressiona com cada novo susto de notícia, esquecendo a anterior. Poderia até dizer, como me lembrou uma estimada pessoa, que muito provavelmente quem leu este texto, um tanto longo para as ‘notas’ comumente veiculadas, sequer está lembrado dos primeiros parágrafos…

Possa dizer um bom leitor que essa postagem tem ‘cara’ de retrospectiva, talvez como carona de final de ano, mas vá lá! Falarmos sobre as atualidades como se cada ‘novidade’ fosse um fator isolado, sem contextualizá-la de acordo com todo um histórico que sabemos ser determinante, é acostumarmos ainda mais a cabeça da sociedade a esse mal de Alzheimer-cidadão, que já virou uma praga e sob cuja a pior consequência, prevejo com lamento e com insistente esperança de estar enganada, virá nas eleições deste ano que acabou de começar.